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Reflexão: Isabel Medina
A Fé que me habita

Isabel Medina é actriz, escritora, encenadora, formadora, e co-fundadora da Escola de Mulheres - Oficina de Teatro.

Reflectir sobre quem somos e o divino em nós tem sido a viagem e o sentido da minha vida. Assim nunca consegui pertencer a uma Igreja, a uma única religião. Quando iniciei este caminho, perguntava-me porque se dividiam os seres humanos em compartimentos, quando essa divisão partia de uma União baseada na Fé, no acreditar profundo de que existe mais para além dos limites dos nossos corpos. E que esse mais é Luz, é Espírito, é transcender os limites do que nos impõe o corpo que nos permite viver neste belo planeta. É uma Fonte inesgotável de Amor. É conexão. E cada um de nós transporta uma partícula dessa Fonte, cada um de nós é parte dela.

 

Religião, etimologicamente, fala-nos de re-ligar. Re-ligar é conectar de novo. Conectar-nos com a nossa alma, a nossa essência, o lugar de onde viemos.

 

Cedo percebi que a separação nos torna fracos, nos entrega à manipulação, ao conflicto, à dualidade. Impede-nos de viver em harmonia. Não bastam as diferenças culturais, geográficas, sociais? É preciso também que essa maravilhosa parte divina em nós seja objecto da tirania da divisão?

 

Não pertenço a nenhuma Igreja. Respeito, admiro, amo e agradeço a todos os grandes humanos que dedicaram a Vida a mostrar-nos que somos mais do que pensamos, e a orientar-nos na nossa reconexão a Deus. Mas não sigo os que fizeram deles uma instituição e, em nome deles, manietaram, destruíram, e reduziram a humanidade a sistemas de crenças proclamando constituir-se na única Verdade. Promoveram o medo em vez do Amor. E Deus é Amor, Compaixão, Gratidão, Apreciação.

 

Cada uma das nossas células vive em cooperação num sistema de interajuda. À imagem e semelhança do que acontece no Universo. Somos todos parte de um Todo e, ao não vivermos em cooperação, ao vivermos em conflicto, ao nos dividirmos seja por que razão for (e tantas, e cada vez mais, são as propostas de separação), estamos a trair-nos, a desalinhar-nos, a desligarmo-nos da nossa Luz maior.

 

Sou uma mulher de Fé. Não uma mulher de uma única religião.

 

Ainda na Faculdade, frequentei uma disciplina que não fazia parte do meu curso: História das Religiões Comparadas. Porque sentia que a base de todas as religiões é a mesma. Só podia ser. Seja em que cultura ou região. Seja animista, panteísta, politeísta. Chame-se o seu mensageiro Buda, Cristo, Maomé ou qualquer outro Ser que traga à Terra a Luz Divina. O que eles pregam é o Amor, a Igualdade, a Cooperação.

 

Os que, em nome deles, instrumentalizam, dividem, e promovem o Medo, esses são os responsáveis maiores pela involução, pelo conflicto, pela competição, pela desconexão.

 

Estamos a viver tempos intensos de mudança de paradigma. Temos acesso ao conhecimento de quem somos, da nossa tão simples ligação ao Divino, já que somos uma centelha de Deus. E, no entanto, assistimos a uma corrida das forças materialistas à apropriação da espiritualidade. Que estejamos atentos, focados, inteiros. Saibamos estar ao serviço de quem, com tanta facilidade, é desviado do plano sagrado.

 

Saímos de um século em que o Ego esteve ao comando. As consequências (algumas benéficas, outras muito longe disso) estão aí. Saibamos, pois, aproveitar, vibrando alto, com amor, com respeito e responsabilidade, e agarremos a oportunidade de criar um mundo melhor, começando por nos tornarmos no nosso melhor. Porque tudo começa em cada um de nós. Num mergulho no nosso interior mais profundo, retirando as camadas de que nos fomos revestindo ao longo da vida, e que já não nos servem. Olhando para as nossas reacções ao outro, e corrigindo o que elas espelham em nós. Os outros são um espelho. Não para julgarmos ou criticarmos, mas para compreendermos e transformarmos o que em nós há de juízo e depreciação. O que em nós há de “verdades” adquiridas e que mais não são do que o resultado do que ouvimos e tomámos como certo, não o sendo. Saibamos com humildade divina, amar o outro mesmo quando a realidade dele ainda se encontra camuflada por crenças culturais e sociais. Tentemos ver mais longe, com o olhar nu de preconceitos, para além do que a nossa mente racional possa abarcar.

 

Olhemos com os olhos do coração. O coração é o primeiro órgão que se desenvolve no feto. A Ciência descobriu que tem neurónios, mais do que o próprio cérebro. Não depende do conhecimento adquirido do exterior e comandado pelo tempo, pelas mentalidades e pelos interesses humanos, mas vem de uma sabedoria maior. Ouçamos, pois, a Voz do coração. Ela não fala de separação. Ela fala de Amor e União.

24.03.2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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